Não sei qual a versão que será cantada na Ruvina. Em Vilar Maior a versão era a que se segue, talvez incompleta.
Encomendação das almas
Ó vós outros caminhantes
parai e ouvi , olhai cá
Em ver vossa piedade
Em ver-vos bastará
Aqui es estou no purgatório
De fogo e leite estendido
Sofrendo os maiores tormentos
E a ausência do Deus querido
Ó almas que estais na cama
A dormir e a descansar
Nem somente vos lembrais
Das almas que estão a penar
Das almas que estão a penar
E é bem que nos lembremos
Que todos emos de morrer
Quem sabe para onde iremos
Passageiros que passais
Vós passais e eu cá fico
Rezai-me um padre nosso
Que é o mais que eu necessito
Cristão reza o teu rosário
Não o tragas pelo chão
Quem reza à virgem Maria
Certa tem a salvação
Não caias na atentação
Como a calma na geada
Que andam para nos tentar
Os três inimigos da alma
O primeiro é o mundo
Cá havemos de o deixar
O segundo é nossas carnes
Que em vícios há-de acabar
Este canto lúgubre e lamurioso, que recordo ainda da minha infância, era entoado na quaresma. Depois de uma badalada no sino da torre começa o grupo a cantar no Arco, no Sr dos Aflitos ou na Ladeira. Entre as estrofes soa nova badalada no sino seguindo-se o tempo de silêncio para que os que se encontram na cama a possam rezar. Participam na encomendação das almas casados e solteiros, homens e mulheres que, geralmente, combinam em segredo. Acontece, por isso, que , por vezes se encontra mais do que um grupo para o mesmo. As mulheres com o xaile que habitualmente trazem, colocam-no sobre a cabeça em arco para soar melhor (per-sonare, personagem -Conduzindo-nos assim aos mesmos gestos e significados do teatro grego).Tratava-se de uma singularíssima representação plena de significação.
In, Memórias de Vilar Maior- Minha Terra, minha gente - Pgs 159, 160. Júlio Marques
Artigo Completo: A Encomendação das almas
Fonte: vilarmaior1
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