15 de outubro de 2014

Sementeira do Pão


Outubro é altura da sementeira do pão. Em Forninhos já não vai encontrar terra lavrada prestes a ser semeada, mas vamos falar de como os lavradores faziam para germinar e produzir o nosso pão. 
Era necessário executar sobre a terra várias operações. Por exemplo, nas terras desprovidas de água, que apenas suportavam uma cultura em cada ano, era preciso estrumá-la e lavrá-la. Depois alisá-la para garantir que a distribuição da semente fosse bem espalhada, gradeando-a com a grade voltada ao contrário - como pode ver-se na imagem acima - em que se utilizou uma pedra para fazer peso e garantir o alisamento. Às vezes o peso da pedra era substituído pelo próprio lavrador que ía com os pés em cima das travessas da grade e inclinado para trás segurava com uma das mãos a corda para manter o equilíbrio e com a outra mão segurava a aguilhada para orientar os animais. 
Espalhar a semente
Se o terreno era grande, como por vezes acontecia, requeria que tivessem certos cuidados. Colocavam-se por exemplo, marcas delimitadoras de zonas. As marcas podiam ser ramos espetados na terra, que depois de lavrada e alisada estava mole para garantir a orientação visual de quem estava a espalhar a semente. O semeador utilizava um saco e tirava uma mão cheia de grão que espalhava e a cada mão cheia de grão que tirava, espalhava.
Claro que se uma seara era muito grande não se conseguia estrumar, lavrar, gradar, semear, tudo num só dia ou no seguinte, embora estas tarefas fossem efectuadas num curto espaço de tempo.
Espalhada a semente era altura de amarejar a terra, ou seja, traçar margens ou regos  com as aivecas do arado na terra semeada, para que o cereal desenvolva as raízes mais abaixo - num espaço arejado - e para permitir em tempo de chuva o esgotamento das águas e, assim, não estragar a sementeira.
Disseram-me que a habilidade para fazer regos perfeitos e direitos na sua seara era, por vezes, motivo de vaidade e orgulho, já que de comentário entre todos! Verdadeiras obras de arte agrícola que se mantinham até à ceifa. Hoje há pinhais, em Forninhos, com os regos pronunciados. Já uma "arada" mal feita ficava com esse aspecto até à ceifa e por isso havia tempo para gozarem com o artista. 
É evidente que a forma de lavrar as searas nada tinha de especial e não existia uma receita para as distâncias em que deviam ser executadas, tudo dependia de vários factores que o lavrador melhor que ninguém conseguia avaliar em cada caso: comprimento dos regos, inclinação do terreno, pluviosidade do local, consistência da terra, etc...
Todos nesta terra eram lavradores e todos merecem ser lembrados, mas merece aqui especial menção o meu avô Cavaca, um dos mais habilidosos.
Convém ainda recordar que o estrume curtido era acartado para as terras no carro de bois equipado com as sebes e "artilhado" com fugueiros ou fueiros (paus que se enfiam numas argolas no estrado do carro e que se mantêm na vertical e que servem de apoio às sebes) como pode ver-se na imagem abaixo. Bem, talvez o mais habitual fosse o carro de uma junta de vacas (duas vacas ao mesmo tempo a puxar o carro). A razão para uma só vaca, prender-se-à com factores económicos e menor área no campo para cultivar.


Carro com rodas de meia lua, equipado com sebes e chavilhão na ponta e charrua (utilizada também na lavoura) fotografados há muitos anos junto à Sede da Junta de Freguesia de Forninhos. Não sei se ainda existirão...penso que não, por tal é que este blog continuará a mostrar o que o tempo apagou.



Artigo Completo: Sementeira do Pão
Fonte: O Blog dos Forninhenses
5 O CHIBITO: Sementeira do Pão Outubro é altura da sementeira do pão. Em Forninhos já não vai encontrar terra lavrada prestes a ser semeada, mas vamos falar de como os...

02:20 | 15 de outubro de 2014


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