Aqui bem perto do Distrito da Guarda está a nascer mais uma grande barragem, junto à foz do Rio Sabor.
O Rio Sabor nasce junto à fronteira entre Portugal e Espanha, na Serra de Montesinho/Gamoeda, e desagua junto a Torre de Moncorvo e Pocinho, no rio Douro, na povoação de Foz do Sabor.
Se é necessária ou se vai servir apenas para encher mais os bolsos de ex-governantes e de capitalistas chineses...é discussão do passado, pois está pronta e a começar a encher, ajudada pelas abundantes chuvas deste Inverno.
Tornou-se por isso urgente visitar o local, já agredido pelo paredão da barragem, mas ainda quase sem água armazenada.
Aproveitando um fim-de-semana sem outros programas, desafiei alguns companheiros do pedal para ir conhecer o vale do Sabor, num percurso por estrada.. O estado do tempo quase fez anular a visita, mas à ultima hora as previsões apontavam 12 horas sem chuva, precisamente no dia previamente marcado.
O percurso, a percorrer no sentido horário. |
A partida na aldeia de Foz do Sabor |
Muitas tangerinas para apanhar. Este é um vale muito fértil! |
Local onde o Sabor se junta ao Douro. O Sabor vem da esquerda e o Douro corre lá do fundo, após passar a Barragem do Pocinho. |
A paisagem junto à Foz do Sabor, zona muito fértil, com calor e água com fartura. |
Um Coelho a fugir! |
Lá vai ele! |
Depois era preciso vencer a primeira grande subida do dia, quase até à aldeia de Estevais. Durante a subida podemos ver já os efeitos da subida das águas provocada pelo 2.º escalão da barragem, que fica mesmo junto à Foz. A ponte antiga da N102 já estava praticamente submersa.
A nova ponte da N102. Ainda é possível ver vestígios da antiga. |
Apontando mais para a esquerda, lá vai o Sabor já transformado em Albufeira. |
A vista após muitas curvas e contracurvas da sinuosa e bela M611 |
Num miradouro, com vista para o vale da Ribeira da Vilariça. |
Já por terrenos mais planos, foi possível aumentar a média e passar por Estevais, Cardanha e Gouveia. Aqui havia a opção de virar à esquerda e seguir já para Alfandega da Fé ou virar à direita para ver as vistas sobre o Sabor. Apesar do mau piso da estrada, virámos à direita, onde passado pouco tempos encontrámos o escalão principal da barragem, que vai dar origem a uma mega-albufeira com 60 km de extensão.
A paisagem agredida pelas obras da Barragem. Em breve vai ser um lago enorme. |
Monte, montes e mais montes. |
O piso exigia atenção para evitar furos ou avarias piores. |
Felizmente o presidente da câmara lembrou-se de nós e arranjou este tapete! |
Monte, montes e mais montes. O Sol começa a espreitar lá ao fundo.
Com pouco mais de 40 km chegámos a Alfandega da Fé. A distância ainda era pouca, mas as subidas já faziam estragos. Paragem num café, onde ninguém queria comer, come-se uma barra para não perder mais tempo, mas afinal todos aconchegaram a barriga. E com o que veio a seguir, ninguém se arrependeu.
A saída de Alfandega da Fé seria a descer até à Ribeira de Escaria, pela N215 e depois N315. Até ao nó de ligação do IC5 o piso era bom, mas depois disso estava destruído, possivelmente pela passagem dos camiões que estão a construir uma nova ponte sobre a Ribeira de Escaria, que também vai ser afectada pela barragem.
Logo na primeira curva com mau piso uma máquina de filmar é triturada. Um dos companheiros trazia uma máquina de filmar presa ao quadro da bicicleta, com a vibração no mau piso o suporte rodou e a máquina foi apanhada pelos raios da roda de trás. Por sorte não se magoou, mas perdemos vários minutos a apanhar os destroços, a procurar o cartão de memória e a endireitar a roda que ficou bem empenada.
Com cuidado fizemos o resto da descida, até encontrar finalmente a Ribeira de Escaria, onde a nova ponte está quase concluída.
A Ribeira de Escaria, com a nova ponte quase concluída. A ponte antiga está escondida lá atrás pelo tabuleiro da nova. A outra ponde lá atrás é do IC5. |
A vista por cima da ponte antiga. |
Falei aqui do IC5? Que veio trazer o progresso e desenvolvimento a toda esta região? Ou a isolar ainda mais os seus habitantes?
Mas antes disso, todo o ciclista sabe que depois de atravessar um curso de água é preciso subir. Foi o que nos esperou, numa subida inclinada e onde o mau piso tornava tudo mais difícil. Para piorar as coisas, começou a chover, primeiro pouco, mas no final da subida fomos recebidos por um diluvio acompanhado de ventos fortes, que faziam as gotas da chuva parecer agulhas.
Junto à aldeia de Sardão a N315 iria juntar-se ao IC5 durante alguns quilómetros, na passagem do Rio Sabor. Nos mapas mais antigos essa passagem do Rio Sabor pertencia à N315, mas com a conclusão das obras do IC5 as estradas unificaram-se entre o nó de Sardão e Meirinhos.
O IC5 é uma via reservada a automóveis, onde as bicicletas não podem circular. Mas existem outras situações de IC e IP onde na passagem de pontes é permitida a passagem de veículos não automóveis, por não existirem outras alternativas para esse tipo de veículos ou para peões.
Infelizmente não é o caso do IC5, onde populações de aldeias que estão praticamente à vista umas das outras, estão separadas por 70 quilómetros de distância, caso queiram cumprir a lei e não tenham um automóvel, como acontece com muitos dos habitantes idosos desta região. Quem tem terrenos agrícolas nas 2 margens do rio também não tem como passar um tractor de um lado para o outro.
Logo que chegámos ao IC5 um funcionário da Ascendi avisou-nos que não podíamos aí circular. Perguntámos por alternativas, ele disse que não havia, teríamos que voltar para Alfandega da Fé.
Molhados até aos ossos e com a Ribeira do Escaria pelo meio, voltar para trás não era opção. Logo após a ponte sobre o Rio Sabor havia um acesso para uma aldeia, São Pedro. Dessa aldeia há uma estrada para Meirinhos, onde a N315 já está separada do IC5. Seriam apenas 3 km no IC5, sempre a descer, numa zona onde o limite de velocidade é 60 km/h e onde só passa um carro de minuto a minuto.
Rapidamente fizemos a descida até ao acesso a São Pedro, onde encontrámos até à aldeia um alcatrão novo em folha. Mas afinal a estrada que ligava São Pedro a Meirinhos era um caminho escabroso em terra batida, com muita pedra à mistura. Com as bicicletas de estrada teria de ser feito a pé, seriam cerca de 5 km.
Voltar para o IC5 significa fazer vários quilómetros nessa estrada, por uma grande subida, quer para um lado, quer para o outro. Ir a pé pelo caminho de terra batida iria demorar mais de uma hora. A solução foi pedir boleia a um simpático casal que ia para Meirinhos, onde seria possível apanhar um táxi e ir buscar os carros à Foz do Sabor.
Fiquei com outros 4 companheiros em S. Pedro à espera dos 2 que foram de táxi buscar o carro. Fomos à procura do forno comunitário, onde havia alguma lenha para acender uma lareira e tentar secar as roupas encharcadas.
A lareira a começar a deitar algum calor (e muito fumo). |
Após algum desconfiança inicial, provocada pela invasão daqueles seres de bicicleta, capacete e roupas coloridas, os habitantes locais lá meteram conversa connosco. Passado pouco tempo já nos tinham oferecido pão, presunto, vários tipos de chouriço, azeitonas e um jarro de vinho caseiro! Quentes, de barriga cheia e com quem conversar sobre a vida em S. Pedro, a espera pelo resgate foi curta!
Pão, presunto, chouriços, azeitonas e vinho. O povo português é mesmo hospitaleiro! |
Além de conhecer o Sabor ainda selvagem, iríamos aproveitar esta volta para almoçar em Carviçais, freguesia de Torre de Moncorvo, famosa pelo seu festival de rock e pela Posta à Mirandesa servida nos restaurantes locais. A Posta à Mirandesa ficou por Sabor(ear), mas está prometido novo passeio por estes lados, com paragem obrigatória em Carviçais.
Ficámos também a conhecer as gentes simpáticas de S. Pedro, que apesar de terem uma via rápida versão PPP-Socrática à porta de casa, que custou e vai custar ainda muitos milhões, vivem isolados das aldeias vizinhas. Um desenvolvimento feito a pensar nos negócios de milhões, decidido nos escritórios de grandes empresas, mas que esquece os problemas das pessoas que se poderiam resolver com tostões.
Artigo Completo: No Sabor nascem vias-rápidas e a posta ficou por Sabor(ear)
Fonte: Viver na cidade da Guarda
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