Poderiam duvidar se fosse eu a dizer que o Cesarão é maior que o Tejo. Mas não, é Pessoa no seu melhor. E eu até teria argumentos que Pessoa não tem, porque Pessoa não teve uma ribeira na sua infância, nem uma aldeia. E eu sei que foi a partir da aldeia que conheci o mundo. Aprendi Geografia, Botânica, Português, Sociologia, Filosofia e tudo quanto sei, a partir daí. Claro que se pode aprender a vida a partir da rua
ou do bairro onde se cresceu. Mas não é a mesma coisa. Qalquer rio, em livro ou em viagem, me remete sempre para o rio da minha aldeia. Ao descer o Nilo rumo a Alexandria, remetia ao Cesarão. Quando as pessoas não têm mais sobre que falar, falam do estado do tempo. Na vila, além do tempo ou, juntamente com ele, falam do estado da Ribeira: se já começou a correr, se já secou, se já entrou às hortas, se já canta. Sim, se já canta. Quem já ouviu esse murmúrio das águas, sabe como é, sabe em que é que param ou correm as águas.
E foi com esse fundo sonoro, que nos garante que o mundo não muda assim tanto e que continuamos a ser, que me encontrei a ler o poema do bucólico Caeiro:
O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.
O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.
Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.
O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.
Também Job Tobim achou que devia cantar o rio da minha aldeia:
http://ift.tt/1j8dthnhI
Artigo Completo: O Tejo não é mais belo que o rio que passa pela minha aldeia
Fonte: vilarmaior1
Sem comentários:
Enviar um comentário