Estamos em Maio, altura de noutros tempos se pegar na gadanha e ceifar com desembaraço os fenos - erva criada nos lameiros e lenteiros - e preparar as terras para a sementeira dos milhos.
Para melhor descrever esta tarefa transcrevo um trecho do livro que melhor, até agora, descreve o que era a ruralidade das nossas aldeias:
"Os primeiros fenos em penachos a secar nas belgas ou nas eiras, ali por fim de Maio, vão deixando as terras livres para a sementeira dos milhos. Aqui e além, por lenteiros e quintais, o lavrador - "ou, ou!, ao rego ou!" - vai escrevendo e cantando o seu poema bucólico, num cenário de maravilha, a acompanhar a orquestra de pintassilgos, rouxinóis, maranteus, e pimpalhões, um melro, num salgueiro próximo e mesmo um cuco, no coruto de uma árvore, a despedir-lhe, em flauta, um intervalo de quarta."
In Penaverde, sua Vila e termo
Pe. Luís Ferreira de Lemos
Pe. Luís Ferreira de Lemos
Como o sacerdote refere, ali por fim de Maio os primeiros fenos eram colocados a secar em penachos, isto é, na vertical, com a espiga bem juntinha e atada, para a semente não se perder, ficando com o aspecto de "bonecas" dispostas no lameiro ou nas eiras, lages como se diz na nossa terra, para amarelecer e secar melhor. Dias depois a erva era bem sacudida para a semente cair, sem que fosse necessário usar o mangual.
O feno/palha ficava estendido, traziam-se os bincelhos húmidos feitos da palha do centeio do ano anterior e então era enfaixado e carregado com as forquilhas no carro de bois, preparado com os fugueiros (fueiros ou estadulhos como são conhecidos em algumas localidades) para segurar bem a carrada e, no fim, apertava-se melhor com uma corda e lá seguia para a palheira para servir de alimento para o gado. A semente servia para futura germinação, sendo que uma boa quantidade era comercializada.
Além deste feno ceifava-se também o feno pousio ou feno bravo. Este depois de ceifado ficava estendido no lenteiro uns dias e se ficasse basto era virado para secar bem dos dois lados. Quando seco era atado com os bincelhos e carrejado nos carros de bois, tal como descrito.
Em Maio, há décadas, atrás, a vida do campo era assim. Presentemente ainda se vê algumas "bonecas" nas lages ou espalhadas nos lameiros, mas os carros de bois é que já se não vêem, foram substituídos pelos tractores.
Usava-se o ancinho para gavelar o feno e para ajudar a remover as palhas; para limpar e juntar a semente, usava-se muito as vassouras de giesta.
Três notas:
1) Lameiros, são terras de cultivo mais húmidas, normalmente as localizadas nas margens dos ribeiros onde a erva cresce mais e dá tempo para se criar a semente, por serem lavradas mais tarde para as sementeiras dos milhos.
2) Lenteiros, são terras de pouso, tratadas com os cuidados da água, a chamada "água de limar" e reservadas para este tipo de erva, que não é semeada como a dos lameiros.
3) Verificamos que na monografia de Forninhos, págs. 95, 96 e 97, esta erva de semente é associada ao nosso pão o que é de lamentar! Muitos jovens não conhecem a história e os usos e costumes dos nossos antepassados e os que a elaboraram confundem o centeio e trigo com o feno?! Santa ignorância!
Cumpre ainda, no rigor das coisas, dizer que o nosso pão era semeado nas terras secas e da palha de centeio é que se faziam os bincelhos (vincelhos) e não os vancilhos como vem publicado!
Cumpre ainda, no rigor das coisas, dizer que o nosso pão era semeado nas terras secas e da palha de centeio é que se faziam os bincelhos (vincelhos) e não os vancilhos como vem publicado!
Muitas palavras são ditas de forma parecida, todos sabemos isso, mas se a obra é sobre a terra dos nossos avós, acho eu, deviam ter respeitado os seus "falares".
O resultado fica aí para vergonha dos doutos que a elaboraram e dos que tal permitiram.
Artigo Completo: Fenos, erva dos lameiros e lenteiros
Fonte: O Blog dos Forninhenses
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