Já dei conta neste blog de lugares e gentes da Vila. Agora será a vez dos Da Ponte, histórias de gente, da nossa gente. Por hoje apenas o início.
A Ponte – o lugar
A ribeira corria indiferente aos transtornos dos que tinham que se haver com o volume e turbulência das suas águas - a hidrografia assim se talhara nos tempos e assim dava cumprimento ao curso da rerum natura. Se as águas turvavam e montavam para as margens, não havia senão dar tempo ao tempo que é no tempo que se nasce e se morre, se constrói e destrói, se sobe e se desce, se ama e se odeia … e, isto sabendo, se espera que as águas se amansem e se aclarem. Assim era para os indígenas que por ali iam curando das suas vidas simples e nem lhes passava pela cabeça que pudesse ser de outro modo, já que o seu saber e a sua técnica aprendidos não iam além de colocar umas toscas pedras em fila, a emergirem na normal corrente da ribeira, para que de pé enxuto, de poldra em poldra, passassem à outra margem. Foi o que fizeram, no sítio das Eiras, onde a largueza e o manso curso do leito aconselhava tal travessia. Um pouco a jusante, com saber e técnica vulgares da engenharia do betão, ilustrados indígenas do século XX fizeram um pontão de cimento e, tementes que as poldras não soubessem nadar e submersas se afogassem, dali as expulsaram, guiados por um senso tacanho e servil de que tudo o que não é útil não presta, apagando assim as marcas por onde os nossos antepassados cuidavam dos teres e haveres (1).
Mandava a lei geral da conservação, em tempos recuados, que se abrigassem nos sítios altos em encostas viradas a sul, que aí construíssem os seus lares, que melhor aí defenderiam as suas vidas. Só muito mais tarde quando, aumentada a população, o direito se foi substituindo à força, a lei ao arbítrio, o arado e a vaca veio superar a enxada e o burro, a ovelha veio superar em número a cabra, só então, a vila saiu do cerco amuralhado que começava no Arco. O símbolo de toda esta lenta mudança ali está erguido em pedra - O Pelourinho! Uma nova idade começa assente na propriedade da terra e no lavrador com a junta de vacas, puxando o carro e o arado, a tornar-se o embrião da classe média, a espinha dorsal da futura sociedade que irá paulatinamente transformar a cultura, a economia e a paisagem.
Havia os campos que, na margem esquerda da ribeira, do cume do Buraco e da Filipa, se inclinavam suaves até ao leito da ribeira e, paulatinamente, se foi estabelecendo o povoado tendo como nova centralidade o Pelourinho na base da contígua colina onde se construiria a casa senhorial de Luís de Bastos (propriedade atual de António Silva Cerdeira) com a melhor e mais extensa propriedade agrícola - O Cerrado.
Aqui tornaremos mais tarde, que queremos falar dos da Ponte, que hoje dizemos serem os do Bairro de S. Sebastião. Sabemos quão importante seria saber da datação desta ponte ou, pelo menos, saber a época em que foi construída, havendo bons argumentos e provas para a considerar romana (2) e havendo outros que a consideram uma construção medieval. Quase certo é que terá sido construída, não para atender às necessidades dos indígenas, mas antes obedecendo a um plano estratégico de interesses mais vastos, nomeadamente de índole militar (3). Nem os indígenas teriam organização, saber e poder para levar a cabo uma obra desta dimensão.
Certo é que dos lugares possíveis em que poderia ser erigida foi este o eleito, no enfiamento da rua mais importante – a rua das Amoreirinhas – que conduzia à cidadela amuralhada e na confluência da rua da Ladeira, da rua Chorreão e da rua da Quelha (atual rua Dr. Diamantino dos Santos).
Antes da construção da ponte o rio era atravessado um pouco mais acima como mostra a existência do caminho de um lado e outro da ribeira,(foto 1) num sítio onde a largueza do leito diminui a profundidade das águas e onde se dá um quase natural emprezamento das mesmas onde antes da construção da ponte poderá ter existido obra que facilitasse a travessia.
(para continuar)
Artigo Completo: A Ponte, Os Da Ponte
Fonte: vilarmaior1
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