Meu querido mês de Agosto
Por ti levo o ano inteiro a sonhar
Trago sorrisos no rosto
Meu querido mês de Agosto
Por que sei que vou voltar
(Dino Meira)
Já lá vão masi de 50 anos que se iniciou a diáspora dos vilarmaiorenses para a França. Essa primeira onda migratória levou quase só homens dos 15 aos 50 e tal anos. Quase todos. Depois foram as mulheres. Os mais velhos regressaram 10, 15, 20 anos depois. Pensou-se que seria um fenómeno passageiro e há que poupar dinheiro mandá-lo para Portugal e comprar umas territas - hortas, veigas, lameiros, vinhas... quase sempre por preços exorbitantes. «Quando a França acabar» era uma expressão que às vezes soava da boca dos que, sem mão de obra, viam as terras por tratar e as iam vendendo.
Mas a França não acabou, vinham os mais velhos ficavam os mais novos que casavam e tinham filhos que continuavam por lá. Que continuam por lá já mais franceses, (ou apenas franceses) que portugueses.
Os primeiros emigrantes pela primeira vez na vida têm vacanças. Vacanças e dinheiro, muito dinheiro em francos velhos contados aos milhões. E começam a usar coisas e palavras que nunca haviam usado: Ele é o Comment ça va?, o Comme ci comme ça, o rapicé, os Batiments, as usinas, a pá e a pioche, o sen ferrien, o vasY e o allez, a voiture com a boite das vitesses e as bougias, o fogo rouge,a marche arriére, a viande, e claro as biéres. E a pouvela por que com o novo estilo de vida começou a haver lixo. E aquilo que os portugueses fazem melhor do que ninguém - desenrascar - passou a ser désenmerder.
Esta era a primeira geração que pouco letrada se desenrascou na aprendizagem de novos ofícios e da nova língua.
Os netos e bisnetos dessa primeira geração, sobretudo os bisnetos que animam a vila neste mês de Agosto falam francês como os franceses e quem não souber francês chega-se a sentir estrangeiro na sua própria terra.
E pronto a vila regressou ao silêncio cortado pelo ladrar dos cães, pelo chilrear dos pássaros, pelo padeiro que vem vender o pão. Lá mais para diante virá o murmúrio das águas da ribeira, há-de cantar a pôpa e o cuco, Agosto chegará e com ele os franceses. A França não acabará ... e a vila também não!
Artigo Completo: Acabaram as vacanças
Fonte: vilarmaior1
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