Outrora uma iguaria ministrada na doença ou quando as nossas camponesas tinham acabado de dar à luz, à semelhança da canja de galinha. Havia que recuperar forças e arribar caminho, mesmo subtraindo algum pecúlio que a carestia mandava guardar, pois ovos e galinhas nesses tempos eram algo de muita estima e "pé-de-meia" para a dona de casa comprar algo de calçar e vestir para a filharada.
Os seus homens iam às feiras vender e comprar "vivo", disso eles percebiam, mas comprar "uns farrapos" no Zé Bernardo, mais valia não falar... era melhor...
Não indo às feiras, pois tinham o arrumo da casa e a lide doméstica, o negócio era então entre elas e as "sardinheiras" que de canastra à cabeça, percorriam a aldeia. Meia dúzia de ovos por um quarteirão de sardinhas, bom negócio para as partes e que em dia de vindima ou escanada de milho, poderiam reforçar umas batatas "refogadas", quando não, "albardadas". O ovo, tinha por mérito próprio elevado valor comercial e em Forninhos, quiçá pela qualidade dos mesmos. Além das "sardinheiras", batiam às portas os "oveiros", tais como os da vizinha aldeia de Dornelas, gente com "olho" para o negócio que depois os vendiam a casa de comidas e dormidas.
Tudo isto a propósito do caldo de ovo!
Afinal como é e se faz, ao ponto de este que apresentamos quase entranhar os sentimentos gustativos?
Coisa mais simples, vejam:
Este ainda é feito à moda antiga, com trigo, daquele de quatro quartos que a padeira, Lena do Mosteiro, traz na sua carrinha, apitando de manhã pelas ruas de Forninhos. Os mais antigos adoram por trazer um pouco do antigamente em que este trigo imaculado era cozido no forno da tia Esperança, padaria artesanal da aldeia.
Ah! a receita...
Vamos lembrar a panela de ferro de três pés ou o panelo de barro preto, a água, sal e um bocadinho de azeite, tudo a "olho", verdadeira receita, e a fogueira branda e mansa por debaixo da chaminé, crepitando uma ou outra fagulha, pacientemente aguardando que levante fervura.
Vejam a simplicidade e quem puder aproveite as brasas no inverno e no assador ao lado, vá assando umas castanhas...
Já está a ferver a água, vamos a isto!
Hora de deitar o trigo, esfarelado dos quartos dentro da fervura, ma não pensem que esqueci o principal, os ovos!!!
Bem batidos, gema e clara em conjunto, na medida de dois ovos e um quarto de trigo por pessoa, colher de pau à mão de semear para mexer, levantou fervura, apagou!
Se quiser, junte na panela ou no prato uma folha de hortelã e...já está!
Simples(mente) adorável, tal qual aqui aparece até nos sentarmos à mesa.
Artigo Completo: O CALDO DE OVO
Fonte: O Blog dos Forninhenses
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