O inquérito "indica que 19,5% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2013 (face a 18,7% em 2012), apesar do aumento do contributo das transferências sociais, relacionadas com a doença e incapacidade, família, desemprego e inclusão social para a redução do risco de pobreza (7,3 p.p. em 2013 face a 6,8 p.p. em 2012)" (INE, 2015). Em comparação ao ano 2010, o aumento é de 1,4 pontos percentuais (p.p.).
Por volta da mesma altura ficamos a saber que a troika faz uma avaliação muito severa ao programa de ajustamento de Portugal, endurecendo as críticas ao afroixamento das reformas, alertando que o aumento do Salário Mínimo Nacional (SMN) foi prematuro, continuando a defender uma política de rescisão contratual na administração pública e uma flexibilização da Lei do Trabalho (LT) no que respeita às rescisões contratuais de forma a tornar o processo mais simples.
Depois da informação veiculada pelo INE, no ICVR, o alarmismo é maior. Verificamos que as famílias estão, em termos de rendimento, cada vez piores, os apoios sociais a diminuir e, para nosso descontentamento, a solução é continuar na senda de atacar quem menos culpa teve no endividamento.
Não consigo perceber como é que a redução de salários e a flexibilização da LT em termos de despedimento facilitará a contratação por parte das empresas. As empresas, no mercado interno, produzem conforme a procura. Se os rendimentos reduzem, qual será a razão para manter níveis de produção maiores que a necessidade?
O ICVR refere que "em 2014, 25,7% dos residentes em Portugal viviam em privação material, e 10,6% em situação de privação material severa..." (INE, 2015), onde a privação material é mais severa em agregados familiares com menores a cargo. Aliás, o ICVR refere que a classe etária mais afectada é a que se situa entre os 0 e os 18 anos. Assim, refere também o estudo que, em 2014, 25,7% da população estava em risco de pobreza ou exclusão social. Refere o inquérito, por exemplo, que 19% das pessoas não têm possibilidade de substituição de roupa usada por alguma roupa nova. Volto à questão anterior, qual será a razão para manter níveis de produção maiores que a necessidade?
À mesma data de publicação do ICVR, o INE também divulga o Inquérito de Conjuntura ao Investimento (ICI), referindo que "entre os objetivos do investimento, perspetiva-se uma redução do peso relativo do investimento associado à extensão da capacidade produtiva de 2014 para 2015..." (INE, 2015), referindo ainda que "o principal fator limitativo do investimento empresarial identificado pelas empresas nos dois anos analisados foi a deterioração das perspetivas de venda.." (INE, 2015).
A solução, numa perspectiva popular ou de senso comum, sem qualquer aferição económica científica, não estará em colocar as famílias numa situação financeira pior da que se encontram, antes pelo contrário, o desafio será criar condições económicas e sociais para que as famílias melhorem o seu rendimento. Uma das formas será manterem os postos de trabalho e criar novos postos de trabalho, absorvendo a capacidade produtiva que se encontra desocupada por falta de oportunidades. O desafio será dar às famílias os seus rendimentos de volta por forma a animar a economia através do consumo interno, munindo as empresas com capacidade para, também, fazerem face aos desafios da exportação e às ameaças da importação.
Até um próximo post!
Artigo Completo: O Caminho Tem Sido Difícil, Mas o Resultado Não Tem Sido Melhor!
Fonte: Sentido Interior
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