5 de fevereiro de 2015

Personagens do século XX, na Vila

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O Plymouth de 1948 do senhor Fernando

 Tudo o que se passava na Europa ia chegando a Portugal, com atraso; tudo o que acontecia em Portugal ia chegando à Vila, com atraso. Chegou a implantação da República, no princípio do século, que aqui teve os seus defensores e os seus inimigos. Com o fim da monarquia a aristocracia local, não residente, por incúria ou falta de meios, descurou  os imóveis. Com o laicismo e  a desconfiança do clero, por parte dos republicanos, a igreja local também sofreu as vicissitudes do resto do país, de que é exemplo elucidativo a perseguição ao, então, pároco Júlio Matias. Daqui foram soldados para a 2ª Guerra Mundial, emigrantes para  a América do Sul (Argentina e Brasil); também aqui não se escapou à Pneumónica em 1918, ano em que houve para cima de sessenta mortes; veio o Estado Novo e aqui encontrou o clima propício do resto do país; por cá graçava a mortalidade infantil, a doença sem remédio que lhe valesse, o analfabetismo como coisa natural e tudo era entregue ao deus dará que era quem cuidava dos pobres e dos indigentes que eram quase todos. Finalmente, na década de 40, descobriu-se que também na Vila havia minério - volfrâmio e estanho que interessavam à indústria de guerra da Alemanha e da Inglaterra. Até que enfim que havia trabalho: de dia na exploração  do minério e de noite no contrabando do mesmo. Emtão jorrou o dinheiro, jorrou a alegria  e jorrou o vinho que, em muito, a sustenta.

Antes de tudo isso, chegara à Vila Fernando Boavida Castelo Branco, vindo de terras para lá da Senhora da Póvoa. As terras da família Pessanha - que possuía as maiores e melhores - estavam em venda e o sr Fernando comprou, não as mais férteis mas as que ficam na margem direita do Cesarão. Ora, foi precisamente nessas que se encontraram as maiores jazidas de minério. Foi sorte? Poderá ter sido, mas como soi dizer-se a sorte protege os audazes e o senhor Fernando era audaz, inteligente e ... tinha olho para o negócio. O senhor Fernando era diferente dos outros proprietários presos a atavismos, explorando o trabalho em relações de patrocinato e troca de favores ao jeito medieval. O senhor Fernando foi o primeiro e único capitalista que houve na Vila: tudo era transformado em dinheiro. O prazer que ele tinha de puxar, no meio da praça, por um bom maço de notas para pagar o dia a este e àquele! 

Ora o automóvel era, à época, um símbolo de prestígio e de riqueza. O senhor Fernando não comprou apenas o Plymouth Special de Luxe Coupé da imagem, mas ainda uma arrastadeira (Citroen) e  um outro ainda que não recordo a marca. Acontecia que dado o mau estado da estrada de terra batida, a provável imperícia do condutor e a mecânica pouco fiável, levava a que quando queria ir a Vilar Formoso chegavam a ficar pela estrada os três automóveis, antes que chegasse ao Alto de Aldeia da Ribeira. Lá tinha que ir o ti Zé Lúcio com uma junda de vacas trazê-los de regresso a casa.

Depois foi ficando mais velho. Acabou o negócio do minério. Os trabalhadores emigraram. O senhor Fernando comprou um Mini Austin. Mas é uma personagem ímpar do século XX na Vila.




Artigo Completo: Personagens do século XX, na Vila
Fonte: vilarmaior1
5 O CHIBITO: Personagens do século XX, na Vila   O Plymouth de 1948 do senhor Fernando  Tudo o que se passava na Europa ia chegando a Portugal, com atraso; tudo o que acontecia em P...

23:25 | 5 de fevereiro de 2015


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