O primeiro era o pai, pela manhã, que, bacia na mão, lançava a água da lavagem matinal, sem dizer água vai. Depois a mãe, a seguir o filho mais velho. Abre e fecha, abre e fecha que foi para isso que foi feita. Tinha uma cor de madeira muito velha, com veios como se de impressões digitais se tratasse. E tinha um pincho gasto pelo uso da mão e do polegar que de cada vez fazia um ruído metálico leve. Dava directamente para a rua onde começava o mundo todo e que nessa altura era o largo e as histórias sempre iguais que nele se contavam.
Durante muitos anos, eu não entendia porque a propósito de amuos da minha mãe o meu pai a acusava de estar com o cu para a porta, como não entendia a sua esperança desesperada dizendo que quando deus fecha uma porta abre outra ou ainda quando as coisas lhe corriam bem dizia que nem sempre o diabo está atrás da porta. Não sabia o que é que a velha porta de carvalho tinha a ver com tudo isto porque haveria mais portas mas eu só conhecia aquela.
Não sei se era por não entender estas coisas que o meu pai aborrecido me dizia:és mesmo burro como uma porta, ficando sem saber se o insultos era para mim ou para a porta. Ainda não sabia o que era Braga e já, na persistência de não fechar a porta, me perguntavam: - Mas tu és de Braga?
Era no tempo que as portas serviam e cumpriam, silenciosamente ou com um doce ranger, a função para que foram feitas: abrir e fechar separando a vida pública da vida privada. Volveram anos e ninguém mais abriu a porta até uma umbada de vento a escancarar e ficar incomodamente assim sem ninguém se importar do dentro e do fora.
Artigo Completo: A porta, as portas
Fonte: vilarmaior1
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