16 de maio de 2014

Das janelas da minha terra


Na zona antiga de Forninhos são já poucas as janelas do antanho que restam. Umas porque foram substituídas segundo o gosto dos proprietários, outras porque entraram em completa ruína, outras...porque são de casas que só têm um jânelo que se calhar nunca se abriu, porque calafetado de farrapos velhos. 


Mas ainda bem recordo as janelas da minha terra, onde durante o dia as mães assomavam, correndo a pequena cortina, aquelas que a tinham, e chamavam pelos filhos, de início em tom cândido, mas que de tão repetido virava ameaça, no limite do impropério.


A canalha não havia maneira de largar a rua e fazer descansar as brincadeiras; e a angústia da mães era se alguém se vinha queixar de vidros partidos ou asneiras impensadas. Mais as horas de sol abafado e quente que lhes rachava a moleirinha a ponto de ter de se ir ao senhor doutor.
Por vezes discutiam com as vizinhas, por futilidades ou raivas antigas, muitas herdadas de família, mas na orgulhosa honra teimosa, como se fosse entre elas. Isto enquanto os seus homens trabalhavam juntos nos campos ou conviviam fraternalmente nas tabernas. Era lá com elas, dizia quem sorrateiramente assistia, pois não queriam confusão para o seu lado: "deviam ter vergonha por levantarem coisas antigas, mais valia  calarem-se e fecharem a janela".
Agora na minha aldeia, das portas de cravelhos ou pinchos e fechaduras forjadas, pouco resta; e das janelas, pedaços de vidros partidos, ancoradas em escombros negros onde vai sobressaindo uma réstia de musgo esverdeado, como que abraçando o eterno e solidário granito. Foram morrendo, acompanhando os seus donos, os mesmos que outrora de madrugada assomavam à janela ao ouvir o primeiro chiar do carro de bois com sebes carregado de estrume, arado, grade e sacos de semente. O vizinho ia já para a sementeira e outras janelas se abriam também, era pois hora de levantar, dia de "pica-o-boi" e, de janela em janela, o grito de guerra matinal, resumido na "salvação"
- Bom dia...
- Bom dia ... e Nosso Senhor vos acompanhe...
E tantas vidas nasceram por detrás delas e tantas  se viram passar por fora delas. E como eram bonitas as janelas de Forninhos, espelhos de alma em que subindo os degraus da entrada e a ela assomar, parecia estarmos mais perto do céu.
Agora urge escancarar as suas memórias, antes que seja tarde demais!


Este último modelo já é dos baixos duma casa em cantaria, de gente ao tempo considerada abastada; por cima tem sacada, sala e quartos com janelas.



Artigo Completo: Das janelas da minha terra
Fonte: O Blog dos Forninhenses
5 O CHIBITO: Das janelas da minha terra Na zona antiga de Forninhos são já poucas as janelas do antanho que restam. Umas porque foram substituídas segundo o gosto dos proprietá...

14:06 | 16 de maio de 2014


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